quarta-feira, janeiro 18, 2006

PORTAS,ALDRABAS E BATENTES: JÓIAS DE COMUNICAÇÃO



Começa hoje um novo blogue, em que a porta é pretexto para falar do Mundo. Do público e privado. Das tradições e dos comportamentos.
Há um ano atrás, um grupo de pessoas, descontentes com o (des) funcionamento de uma associação que tinham fundado, ou da qual eram associados, tinham decidido formar uma nova associação, que dava os seus primeiros passos, a caminho da legalização.
O facto de dedicar muitas das horas livres ao estudo das aldrabas e batentes, levou-me a propôr que a nova associação se designasse, de acordo com aquela jóia da comunicação, obra-prima de ferreiros, delícia de alguns que apostam na salvaguarda do espaço e património popular.
Durante meses iniciei, na companhia de Margarida Alves e de José Prista, a animação do blogue da Associação.
Durante o ano passado, a par do blogue da Aldraba, o Adufe e o Batentes e Aldrabas, divulgaram imagens de diversos exemplares daqueles utensílios.
Este blogue que saúda a existência de todos os outros e considera enriquecedora a sua existência, terá algumas preocupações, além da divulgação deste ou daquele batente recolhido nesta ou naquela cidade.
Procuraremos compreender o que está para lá dos objectos utilizados para comunicar. A linguagem da porta. Os códigos. A simbologia. A funcionalidade e os usos na bacia mediterrânica.
Consoante o tempo disponível, assim será a regularidade deste espaço de reflexão e diálogo.
A porta de hoje foi fotografada em Sidi Bou Saïd, na Tunísia. Ostenta dois batentes em forma de argola e uma aldraba mais abaixo.
Segundo crenças e tradições ancestrais, os batentes serviriam para o homem (esquerda) e a mulher (direita) se fazerem anunciar aos da casa. A aldraba (por debaixo do batente da mulher) era utilizado pela(s) crianças.
Soube pela primeira vez desta utilidade dos objectos quando visitei Fez, no início dos anos 90, quando um guia me revelou estes costumes. Voltei a ter testemunhos destas posturas, mais tarde durante uma visita`a Tozeur. Na net há mesmo um site que nos remete para uma temporalidade ligada à utilização talismânica da aldraba.
Ao contemplar a beleza desta porta e lembrando-me de belos exemplares que ainda subsistem, rareando, Portugal fora, antevejo a dolorosa descoberta de um deserto de referências identitárias que as portas de madeira com aldrabas consubstanciam, caso esta matéria se restrinja à mera curiosidade bloguística e estudantes, arquitectos, autarcas e militantes do património se demitam de intervir.
(fotografia de LFM)

4 Comments:

Blogger zoltrix said...

Saúdo o novo espaço! Estarei atento e procurarei contribuir na medida do possível.
Viva o Porteiro! Deve-se fazer Knock! Knock! ?
Recordo-me daquele poema:
batem leve, levemente...
Batiam com o quê? E qual a onomatopeia em português?
Abraços

1:01 da manhã  
Blogger j.c.pereira said...

O meu modesto arquivo de fotos está à disposição.
Um grande abraço por mais esta iniciativa.
João Costa Pereira

Ps.
Veja o seu e-mail (cmLisboa) respondi à sua questão da visita a Coruche.

11:42 da manhã  
Blogger Margarida Bonvalot said...

Que maravilha e que boa surpresa este novo blogue e o tema que abrange! Estou à tua disposição com as milhentas fotografias de portas do meu espólio.
Beijinho.

6:47 da tarde  
Blogger Jacqueline Aragão said...

Que maravilha ! Sinto-me compreendida! Também tenho eu uma verdadeira fascinação pelas Aldradas, tendo o costume de fotografá-las!

1:12 da tarde  

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