domingo, abril 22, 2007

Portas de Moreanes






A porta é o cartão de visita do proprietário ou locatário de uma casa. Em Moreanes, como noutros lugares do nosso país, as portas falam.
O ferrolho na porta verde de madeira, o postigo na entrada da casa em abandono, mordido por ventos e sóis, que já não se entreabre para espiar o movimento da rua, a rendinha atrás da qual os olhos se resguardam do mundo, atentos ao que se passa no exterior, protegendo o espaço privado, são substancialmente diferentes da porta de alumínio crú, que ostenta poder de compra, mudança, com uma estridência que destoa da barra tradicional, amarela com tonalidade de caramelo.
Em Moreanes, as portas têm uma linguagem que se aprende observando com atenção.
Texto e fotos:LFM

segunda-feira, abril 09, 2007

Porta do Antigo Convento de São Salvador, Évora


A porta do antigo convento de S. Salvador,aqui partilhada, está virada para a Praça de Sertório,onde se situa a Câmara Municipal de Évora.
Nessa parte do edifício está instalada a Direcção dos Monumentos Nacionais, um organismo que, pelo menos neste caso, ajudou a preservar a porta e os artefactos que a decoram.
Parece excessivo dizer isto. No entanto, o IPPAR, tem permitido reconstruções de edifícios históricos, patrimónios identitários, como alguns velhos palácios de granito, introduzindo portas absurdas de vidro, com puxadores "dos andares que andei a vender no Feijó", para utilizar uma expressão de uma amiga(Palácio do Picadeiro, em Alpedrinha, por exemplo).
Depois, de uma forma fundamentalista, impedem qualquer alteração em edifícios particulares,exigindo que os proprietários singulares, ao construírem uma casa nova - se for num centro considerado histórico - tenham em conta que as portas têm de ser em madeira, etc.
E eu que até não morro de amores pelo alumínio (abundante no centro histórico de Miranda do Douro)pasmo com estas discrepâncias.
Em meados dos anos 90 do século passado, em Évora, o Tribunal da Relação (está na Net) aceitou a alteração substancial na fachada de um prédio - com a substituição de portas de castanho por portas de vidro - contestada pelos proprietários que tinham arrendado o imóvel a um comerciante, concluíndo que a alteração compensara o prejuízo estético, com um enriquecimento patrimonial.
Há alguns anos, fiquei furibundo quando li num site inglês - que propagandeava o actual ALLgarve - que nós éramos os marroquinos da Europa.
Hoje sou eu que o digo (no que há de pior nessa designação - leia-se Tahar Ben Jelloun, "O Homem Quebrado", Caminho, para se perceber aonde quero chegar...

Rua do Fragoso, Évora


Na semana passada dirigi-me à Junta de Freguesia de S. Mamede para entregar dois livros de minha autoria. Afinal de contas foi nesta freguesia da cidade de Évora que nasci.
Não me lembro de ter passado por lá antes, por isso foi com um olhar deliciado e surpreendido que guardei esta porta manuelina.
Espero que este património também vos agrade, afinal de contas nas nossas cidades não há muitas portas como esta...