quinta-feira, agosto 31, 2006

Tasca da dona Maria em Alpedrinha: uma porta aberta para a fraternidade



A porta está sempre aberta durante o dia. Conheço a dona Maria desde que vou a Alpedrinha, há duas décadas e meia.
A melhor ginjinha da Beira Baixa é ali que se prova e repete. Jovens e idosos passam horas a beber e a conversar naquele espaço.
Há duas semanas, qual não é o meu espanto, a senhora intervém numa conversa de rapazes com uma lucidez e uma sabedoria dignas de registo. Ao escutar da boca de um deles que preferia ser espanhol logo a dona Maria disse com um sorriso maroto que isso devia ser por causa das raparigas e logo a seguir comentou "olha, se dissesses isso no tempo do Salazar ias para a choça (prisão)"
E com uma memória fascinante relatou o dia em que HumbertoDelgado chegou a Alpedrinha para fazer a sua campanha à Presidência da República, em tempos de ditadura feroz. O medo, o silêncio pontuaram esse momento inesquecível. O marido de dona Maria era um homem de esquerda (comunista, dizem) e durante anos ela guardou religiosamente selos dessa campanha, que passado este tempo todo mostrou, colocando-os em cima do balcão.
Não há palavras que possam descrever o espanto e a ternura por esta mulher da Beira, sempre vestida de preto e rija como os fraguedos graníticos da Gardunha.
Bem Haja dona Maria por esta partilha fraterna!
LFM:texto e fotos

quarta-feira, agosto 23, 2006

Alpedrinha: A Velha Pensão Clara


Por estas portas - em frente da igreja da Misericórdia e respectivo Hospital, hoje lar de idosos, devem ter entrado muitas famílias em busca do paraíso (sopas caseiras, de feijão, de couve lombarda, canjas, manjares da gastronomia tradicional, ternas falas, sacos de água quente nos frios Invernos), caixeiros viajantes, clérigos e magistrados, gente simples e ricaços, todos saudosos dos tempos mágicos da Província, narrados por Eça, Camilo e Júlio Dinis.
Por estas portas se embalou a esperança de regresso, à saída. Portas da amizade, que se abriam e fechavam num ritmo tranquilo, motivando que muitos desses frequentadores procurassem depois a nova pensão Clara.
Conheci Clara Nabais já no novo edifício junto à Fonte da Fome. A sua inteligência e sensibilidade tocaram-me. A porta da sua casa e a do seu coração materno estiveram sempre acessíveis à minha sede de abrigo.
Eterna Clarinha da Gardunha!
Texto e fotografia: LFM

terça-feira, agosto 15, 2006

Óbidos, um lugar para descobrir a História


Ana andou por Óbidos um destes dias e do muito que viu, trouxe batentes e aldrabas para partilhar.
Segundo ela, todas as portas tinham um utensílio daqueles, fazendo de Óbidos um lugar encantado.
As casas e ruas da Idade Média apresentam uma harmonia que o património "invisível" ajudou a construir, no imaginário daqueles que perseguem a nostalgia do passado.
Por isso, se realizam mercados e festas medievais, festivais e declarações de amor a estas terras mágicas, onde a tradição- mesmo quando os batentes são novos, como na foto da Ana Fonseca-foi integrada numa narrativa, que visa o turista interessado pelo esplendor da História, com muitas estórias à mistura.
Óbidos é um lugar donde se vê a História em cada pedra, em cada batente, que rasga o silêncio à procura do espanto...

segunda-feira, agosto 07, 2006

Uma Certa Porta em Silves...


Quando tenho a campaínha avariada, betem-me no batente...então não oiço? O toc-toc. Nas outras casas onde vivi não tive...
Foi comprado com a porta. Naquela altura não olhava para a sportas. Através de ti vejo as portas melhor!
Quando me batem à porta...quem me bate muito à porta é a miúda aqui do lado, é a Marianita, e agora já sabe que o E. toca música, quer é dançar...
Quem me bate mais à porta? São gajos a pedir...
Houve um que roubou-me a tesoura de podar, foi lá atrás ao quintal e tirou-a. Encontrei-o à porta da igreja em Tavira, nem ele se escondeu, nem eu fugi.
Depois aparecem-me aqueles toxicodependentes...às vezes estou porreira, outras digo-lhes "quem dera que me dessem dinheiro a mim"...
E os amigos já sabem: ou chamam ou vêm por trás, ao quintal, já sabem que eu estou a trabalhar."
(Depoimento de Maria João, sobre uma certa porta de Silves, a sua.)
Foto de LFM: aldraba de Coruche.

domingo, agosto 06, 2006

Moita dos Ferreiros: A Delícia que a Porta Esconde...




A Lurdes e o Zé Pinheiro são há mais de uma década, com algumas intermitências, dirigentes da colectividade Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", sita na Rua do Possolo, 7 a 9, e que este ano comemora o seu primeiro centenário. Ele já foi tesoureiro, ela é a presidente dos 100 anos. Um dia, há cerca de 12-13 anos compraram uma casinha na Moita dos Ferreiros (concelho da Lourinhã) para onde se evadem para poderem enfrentar o stress, recarregados de boa energia, bons ares, boa comida e descanso de regalo.
Ontem, quase toda a direcção e Comissão de festas da colectividade abancou lá em casa. Sardinhada e febras e muita alegria foram os pontos altos de um menú onde o convívio imperou.
Aqui se partilha a delícia que a porta esconde.
Uma roda de uma carroça e um batente enramado com suporte da cabeça de uma provável divindade ou figura mítica (Medusa tinha serpentes na cabeça, o que não é o caso...) convidam-nos a entrar e saborear a amizade.
Lurdes e Zé Pedro (e já agora o André e a Cláudia, os filhos) são de uma serenidade encantadora e de uma fraternidade que nos desafia a sermos melhores nestes dias de cegueira mundial...
Bem Hajam por esse belo refúgio de onde todos saímos com a lua no céu e uma brisa morna a coroar um dia perfeito!
(fotos e texto de LFM)